terça-feira, 18 de novembro de 2008
Desenhos
Depois de uma noite desenhando, me vi com vários trabalhos que, acredito, visivelmente tem influência da pintura. Isso, aliás, é uma coisa que eu recomendo - essa "interdisciplinaridade" acrescenta muito a todo artista. O que você aprende em um meio de expressão acaba inevitavelmente aplicando em outros meios que trabalha, e por aí vai. O desenho e a pintura são simultanamente muito parecidos e muito diferentes entre si, mas são justamente essas particularidades (em comum e contrastantes) que juntas vão dar uma formação cada vez mais completa a quem resolver abraçar essas formas de arte.
Outros materiais acabaram entrando, como canetas coloridas e guache. Quando dei por mim já não sabia mais se o que eu estava fazendo era pintura ou desenho, ou desenho pintado ou pintura desenhada... Enfim, o que importa é chegar em um trabalho final que lhe agrade, não refreando jamais o seu impulso artístico, a sua vontade naquele momento. Tudo o que você fez contribuiu para chegar naquele resultado, e não em outro.
O engraçado é que no fim das contas saíram mais auto-retratos do que eu me dei conta. Acho que depois de tanto ver os desenhos do Egon Schiele o seu trabalho fica mais narcisista do que se pode imaginar :P
domingo, 26 de outubro de 2008
Pintando o sete
Para começar, tenho estudado muito pintura e os movimentos artísticos. Não ligava muito para a pintura em si, confesso, mas de uns tempos pra cá me animei a mexer com tintas pra valer, e aí a coisa tem crescido cada vez, no sentido que tenho me interessado um bocado em aprender. Nos livros de arte por exemplo, há cada coisa mais interessante que a outra, desde o contexto histórico e a vida dos artistas até as técnicas usadas e resultados finais! Tudo isso nos nutre e ficamos cada vez mais empolgados pra criar as nossas próprias obras. Comprei todos os livros de arte da Taschen da promoção dos 25 anos que pude, e outros mais que estou vendo; tenho feito inúmeros estudos, esboços e diversos testes de pintura; tenho comprado e testado muitos materiais; as telas já estão abarrotando o meu pequeno estúdio - bem, está virando quase uma obsessão :P
De todas as escolas, as que mais tem me marcado são as relacionadas ao Expressionismo - ou seja, o Expressionismo em si, o Neo-Expressionismo e o Expressionismo Abstrato. Isso, pelo que parece, está se refletindo em tudo o que faço - desde os esboços de ponta de caderno até os padrões visuais do trabalhos animados.
Bom, segue então algumas fotografias das pinturas. A maioria ainda está 'sem título' - aceita-se sugestões :) E em breve estarei postando outras pinturas mais.
Sem título
40 x 59cm
Acrílico sobre tela
Sem título
60x 80cm
Acrílico sobre tela
domingo, 25 de maio de 2008
Diário Gráfico!
Tudo começou muito recentemente, há uns dois meses atrás, quando recebi um e-mail falando sobre a vinda do artista Renato Alarcão para o Ceará, para ministrar uma oficina a respeito do diário. Até então, nunca tinha ouvido falar, nem da oficina, nem do cara, e nem mesmo do tal do diário. O e-mail não me chamou a atenção; estava correndo com mil outras coisas e não vi nada demais naquilo. "Pintar coisas num livro?", pensei, "que tem demais nisso??". Não dei muito crédito. Bom, pelo menos até o momento.
Com a proximidade da oficina, uma pessoa muito especial me chamou para fazê-la, e até pensei "tá bom, por que não?"... mas aí vi que o horário chocava-se com a oficina que eu iria ministrar, de animação experimental (ver alguns posts abaixo) e então desisti, certo que esse negócio de diário gráfico não ia dar certo pra mim. Isso, mais uma vez, era o que eu pensava.
Após fazer a oficina, esta pessoa especial veio super empolgada me contar de como foi, das técnicas utilizadas, de como ficaram as páginas e que tudo (todo o livro, as costuras e imagens todas) era feito do zero, à mão, o que me impressionou muito. Nesse momento me deu uma vontade enorme de ter feito a oficina, e vi que o conceito básico do diário gráfico - retratar idéias que lhe ocorram num certo momento - era na verdade algo que eu já fazia, nos meus eternos bloquinhos rabiscados, só que este feito do zero dá outra visão ao todo. Além do mais, este propõe uma maior proximidade com tintas, materiais e os mais diversos suportes, afim de concretizar esses flashes criativos que aparecem. Soube então que iria ter uma segunda turma da oficina, mas devido a acontecimentos de naturezas diversas, também não pude ir.
Foi então quando aconteceu, na Fanor, uma palestra do Renato Alarcão sobre ilustração, e os seus (fantásticos) diários gráficos estava lá, projetados e enchendo a parede do auditório 2, impressionando enormemente a mim e a todos os demais presentes. Tão interessante quanto os diários eram as histórias de como as páginas eram criadas. Pinturas abstratas em cima de papéis antigos, que por sua vez eram a base de novos e bizarros desenhos que só esperavam um momento para encher os olhos de quem os visse. Saí fascinado da oficina, e ainda conheci o simpático Alarcão, o qual me pareceu incrivelmente calmo para o turbilhão de idéias que devem circular pela sua cabeça. Mas, como alguém poderia dizer, "esses mais calmos são os piores" :P
E aconteceu então, o inesperado. Passados alguns dias, aquela pessoa muito especial me presenteia com um diário gráfico! Novinho em folha, este pequeno livro em branco aguardava ansiosamente os lápis, tintas, colagens, stencils e Deus sabe mais o quê. Foi no dia 1. de maio, e hoje (25 de maio) já tenho o meu querido diário quase todo preenchido, e já estou pra encomendar outros mais.
É algo impressionante, sem precedentes, inexplicável. Parece que o diário emite uma voz que o chama a colocar ali tudo que você sente, como se o desafiasse a sempre ser mais louco, mais experimental, mais ousado e completamente sem restrições. Coisas que antes eu nunca imaginaria, como pegar recortes de frutas e verduras de folhetos de supermercados e desenhar tipografias em cima, ou colar papel-toalha e pintar por cima pinceladas violentas com um pincel sujo de tinta de outros trabalhos, ou mesmo aplicar nele velhos desenhos esquecidos na gaveta e retrabalhá-los... enfim, não tem fim. É absolutamente viciante, e absolutamente recomendado para quem já não sabe onde por todas as idéias que brotam sem cessar da sua cabeça. Quem diria... comecei vendo sobre uma oficina que não me despertou (sabe-se lá por que) interesse imediato, mas termino encantado com as propostas de criatividade sem limites trazidas por Alarcão. Obrigado cara!
Abaixo, uma pequena amostra das páginas deste meu companheiro, pequeno herói de papel. Com menos de um mês de vida, já está "velho de guerra" - não fecha completamente, algumas costuras me parecem estar a ponto de romper e deve estar com o dobro (ou mais) do peso original. Então, vida longa aos diários gráficos e aos artistas que colocam neles seus anseios e imagens do subconsciente!
E Fran, obrigado de coração. Este diário é dedicado a você.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Materiais Animados!
Existem muitos materiais, e para cada estilo e técnica de animação pode-se utilizar um, vários, combinações entre eles ou mesmo outros materiais inimagináveis - me aterei aqui porém aos mais conhecidos, utilizados diretamente sobre papel.
Os exemplos abaixo foram feitos usando-se papel comum com gramatura 180g/cm3. Os originais de todos os desenhos têm medidas de 35 x 61mm, e foram escaneados a 400 dpi.
Lápis (HB a 9B)
Talvez o mais básico dos materiais, o lápis pode, além de servir para esboço, dar grandes efeitos e, associado a um uso inteligente de processos como o alto contraste (após digitalizar a imagem) pode ficar com um aspecto surreal e intensamente granulado - o que é muito desejável para um trabalho cinematográfico animado - a vibração em movimento dos grãos do material é algo procurado por muitos animadores.
(abaixo) - Utilizando lápis 2B
(abaixo) - Utilizando lápis 9B
Lápis de Cor
Também bastante simples, traz grande vivacidade aos desenhos. O lápis de cor tem textura por si só granulada, e ultimamente tem sido fabricado ainda mais poroso e macio - o que poderia ser o equivalente de cor à gramatura 6B do lápis comum. Existem até mesmo os modelos aquareláveis, que embora tenham custo elevado são mais macios e, adicionando um pincel previamente molhado, pode-se conseguir efeitos ainda mais impressionantes. Sem dúvida o lápis de cor é um material básico para todo bom animador.
(abaixo) - Traços totalmente cruzados
(abaixo) - Traços quase paralelos
Caneta Esferográfica
Considerada ordinária e talvez até impensável para se fazer imagens animadas de qualidade, a caneta esferográfica comum (sim, uma BIC qualquer de R$ 0,50) pode proporcionar grandes efeitos se utilizada com destreza; a variação no traço que ela especificamente proporciona (mais grosso se a utilizar com força e devagar e mais fino se se traçar rápida e suavemente) é difícil de se encontrar em outros materiais - o traço fino de uma caneta assim é uniforme, linear e muito mais fácil de se conseguir do que, por exemplo, com pincel; seu ponto forte é justamente a maciez do traço, devido à ponta esferográfica, que diminui o atrito com o papel. Simples, prática e barata, traz inúmeras possibilidades.
(abaixo) Dois estilos de traço com a caneta esferográfica
Caneta porosa
Traços rápidos e bem preenchidos são uma forte característica da caneta de ponta porosa. Tanto os tipos a base d´água como os demais são, porém, descartáveis - e dependendo do uso podem acabar bem rápido mesmo (muito mais do que uma esferográfica). São práticas e perfeitas para várias situações; desde desenhos bem acabados até trabalhos para ontem (que tem que ser feitos mesmo muito rapidamente) elas dão conta do recado. A melhor e mais conhecida é a popular Uni Pin, da Mitsubishi Pencil Co., que tem uma ótima ponta (nem muito dura nem muito mole) e não borra com água; o original feito com ela (dependendo das condições) dura muito bem com o passar dos anos. Outra boa opção é a também popular caneta para retroprojetor - que hoje é mais conhecida como marcador para CD e DVD. O traço é grosso e indelével, assim como rápido e macio.Geralmente a tinta atravessa o papel comum, quando se traça várias vezes numa mesma área (acumulando tinta), mas para um preenchimento rápido de preto é a melhor opção.
(abaixo) Personagem central feito com Uni-Pin ponta 0.2 mm; círculos e linhas
Tinta Nanquim
A tradicional tinta nanquim é um dos materias mais conhecidos para desenho e se mantém no topo no sentido de praticidade, resultado e durabilidade. É de fácil manuseio (já vem pronta para o uso, dispensando diluição), tem excelentes resultados (tanto em canetas técnicas ou pincel) e o trabalho feito com ela pode durar, mesmo mal acondicionado, muitos e muitos anos - o preto profundo se mantém fiel e indelével com o passar do tempo, mesmo passando por mofo, sujeira, poeira e ação de ressecamento. A melhor forma de se utilizar o nanquim é com um pincel, que pode ser mais grosso, mais fino ou incrivelmente fino - o que requer, neste último, muita destreza. A prática com o pincel para estes trabalhos muito precisos porém, leva vários anos para se masterizar, necessitando muito treino, disciplina e controle, mas uma vez conseguido, tem resultados espetaculares. De qualquer forma, independente do treino, um bom artista pode realizar excelentes trabalhos com nanquim, e nas imagens de um curta animado fazer visuais fluidos e impactantes.
(abaixo) Desenhos feitos com tinta nanquim, antes de retoque de alto contraste digital
Tinta Acrílica
Bastante utilizada em telas de pintura e em trabalhos diversos de tamanho médios a grandes, a tinta acrílica também pode ser usada em papel com interessantes resultados. Ao contrário de outras tintas (como a aquarela), a tinta acrílica não permite uma variação de cor homogêna na hora em que é aplicada, mas deve ser misturada antes da aplicação. Deve ser, inicialmente, dilúida em água, e a criação de novas cores devem ser feita com atenção, sempre se misturando bem as tintas. Uma vez diluída, misturada (se for o caso) e homogênea, a tinta está pronta para o uso em papel. O resultado da pintura é bem interessante, e com algumas camadas de tinta sobrepostas numa mesma área pode-se conseguir um preenchimento profundo praticamente perfeito. É relativamente mais cara que outras tintas, mas durável; um pote tradicional de 250ml de tinta concentrada pode durar alguns anos, com utilização ocasional.
(abaixo) - Fundo amarelo com duas camadas de tinta + pinceladas azuis
(abaixo) - Fundo azul com quatro camadas de tinta + pinceladas amarelas
Tinta Aquarela
A própria natureza da aquarela sugere trabalhos mais soltos e suaves, ainda que imprevisíveis e arriscados - mas no bom sentido. O fato de a tinta ter que se misturar com água para ser comumente utilizada faz com que cada pincelada seja diferente da outra, e dependendo da quantidade de tinta, de água, do papel e da velocidade das pinceladas o resultado é totalmente diferente. A própria textura da aquarela faz com que se dissolva no papel, ao ser aplicada, aí surgindo um suave degradê. É difícil, logo, saber exatamente como a tinta irá "reagir" no papel; o artista que empregar está técnica deverá então estar extremamente aberto às possibilidades oferecidas pelo material e condições de trabalho. A mistura de cores é algo bem prórpiro da aquarela - uma vez no papel, as cores sobrepostas resultam em outros tons ou mesmo outras cores, e pode-se assim criar belíssimas imagens, realistas ou não. Uma possibilidade interessante: após a digitalização, na edição das imagens, pode-se utilizar uma pequena fusão (fade) entre os frames, conseguindo-se um efeito extremamente surreal, elevando esta técnica ao topo, se se deseja causar sensações etéreas, leves e de suavidade.
01(abaixo) - Aquarela com amarelo, laranja, laranja-escuro, vermelho, vermelho escuro
Cola Colorida
Material relegado a último plano, que só é mencionado e lembrado nas listas de material infantil de colégio. Extremamente versátil, barata e prática, a cola colorida é fácil de aplicar, seca relativamente rápido e os efeitos que pode trazer ao trabalho são únicos dela - as pequenas e perfeitas bolas de tinta que se acumulam e as marcas do próprio bico de aplicação, quando é arrastado sobre o papel, e junto com a tinta, deixam marcas semelhantes a "pinceladas"; a própria sobreposição das tintas é interessante; ora se mantém estáveis ora se misturam, o que dá efeitos muito curiosos. Tudo isso se deve à própria consistência da tinta, espessa e viscosa - mas maleável o suficiente para se permitir trabalhar tranqüilamente. Certamente um material muito interessante para se fazer algo diferente.
(abaixo) - Pastel Oleoso normal
(abaixo) - Pastel Oleoso + esfuminho (no espaço e no anel do planeta)
Carvão
(abaixo) - Traços à carvão comum para desenho, borrado levemente com o dedo
É importante considerar que a variação de tipo, gramatura, revestimento e rugosidade do papel muda consideravelmente o resultado da ação dos materiais - especialmente em técnicas como lápis, aquarela, pastel, giz e carvão - utilizar um papel grosso e rugoso difere enormemente de se fazer o mesmo desenho sobre papel comum.